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Entenda a crise no fornecimento de frete internacional

O ano de 2020 certamente tem sido desafiador em praticamente todas as esferas. Estamos no último trimestre do ano e quem de nós já esqueceu de acompanhar pelo noticiário a onda da Covid-19 na Ásia e posteriormente na Europa lá no início?

Enquanto aqui celebrávamos o Carnaval, víamos o hemisfério norte sofrer com o potente vírus e fantasiando que ele não chegaria aqui. Ou que fosse menos devastador. Não foi isso que aconteceu.

Ao longo desses últimos meses, já que o primeiro caso no Brasil foi confirmado em 26 de fevereiro, presenciamos uma série de situações que alteraram sobremaneira aquilo que chamávamos de “normal”.

No que se refere ao comércio exterior e à logística internacional, nos deparamos inicialmente com a China e a Índia, dois grandes fornecedores brasileiros de matéria-prima, especialmente de medicamentos e alimentos e insumos industriais, com dificuldades para exportação de seus produtos em razão de lockdown.

Ao longo dos meses o cenário foi alterando à medida que o vírus avançava para outros continentes. Vimos parcerias entre países ficarem comprometidas e parecia inevitável um colapso na cadeia global de suprimentos.

A logística internacional funciona como uma engrenagem e qualquer ruptura, pelo motivo que seja, causa desequilíbrio no fornecimento mundial de mercadorias, sejam matérias-primas, sejam produtos acabados.

O container é utilizado como um acondicionador de cargas e a intenção é de que não circule vazio. Fazemos uso dele para a exportação de nossa produção e para otimizar seu retorno, envolvendo as cargas de importação. É um fluxo importante, já que há um número limitado de contêineres no mundo. E o equilíbrio desse vai e vem é o que permite preços razoáveis de frete internacional.

Mas, como falamos inicialmente, 2020 tem sido um ano desafiador.

No auge da pandemia na China, as importações naquele país (sejam marítimas ou aéreas) foram suspensas, o que fez com que gerasse um desabastecimento de unidades de acondicionamento de cargas. Num primeiro momento, o impacto causado por essa ruptura não foi tão grande, pois a demanda mundial havia desacelerado.

Agora, no que chamamos de retomada das economias e consequente incremento das operações de comércio exterior, esse desequilíbrio tem elevado sobremaneira os fretes internacionais.

O que víamos um custo de aproximadamente USD 500,00 para uma unidade de 40’ da China para o Brasil, hoje temos visto até USD 5.000,00. O que também não é garantia de se conseguir unidades.

O mesmo viu-se acontecer no modal aéreo, com a redução de voos. Nada mais é do que a lei da oferta e procura. Menos viagens disponíveis, retomada da procura, consequente aumento no preço do transporte internacional.

Temos presenciado a elevação dos preços no transporte internacional de cargas desde o início da pandemia no Brasil, mas nada comparado ao que está ocorrendo no momento. Em abril já se noticiava incremento de 400% no custo do frete internacional China x Brasil. Entretanto, já foram identificados aumentos de até 1000% e a recorrente dificuldade de se conseguir equipamentos.

O Brasil é essencialmente exportador de proteínas animais. Portanto, envia seus produtos em contêineres refrigerados. Uma alternativa tem sido utilizar essas unidades para a importação de cargas gerais. Essas unidades são chamadas de NOR – Non-Operating Reefer. São contêineres reefers, porém, desligados.

Atrelada à elevação dos custos com o frete internacional está a cotação da moeda norte americana. O real tem se desvalorizado frente ao dólar, o que compromete as operações de importação. Um frete internacional na casa de USD 4.000,00, por exemplo, ultrapassa os R$ 20.000,00.

É sabido que essa despesa compõe a base cálculo para tributos como Imposto de Importação, IPI, PIS/PASEP, COFINS, ICMS. Portanto, o consumidor final é extremamente afetado com essa situação, uma vez que o preço do produto importado na gôndola do supermercado ou na farmácia, por exemplo, estará mais caro.

Esse ciclo naturalmente é prejudicial para a economia como um todo. Havendo aumento do custo na importação, com a elevação dos preços de frete internacional, eleva o custo das matérias-primas, que consequentemente reduz nossa competitividade nas exportações também. Haja vista que usamos boa parte de importados como componentes de itens para exportar.

Sendo assim, é imprescindível que se restabeleça o padrão dito normal para oferta de fretes internacionais de modo a viabilizar as operações de importação e garantir uma maior competitividade brasileira no que se refere à logística internacional de cargas.

 

 

 

Autor: Prof. Diego João Ventura

@profdiegoventura_vencomex

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